1. UMA VISÃO GERAL SOBRE O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
O autimo, também chamado de transtorno do espectro autista (TEA), é um distúrbio do desenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e as interações sociais. Seguem algumas informações e estatísticas referentes ao transtorno:
- O autismo foi descrito por Leo Kanner e Hans Asperger em 1942 e 1943 respectivamente, e desde então o transtorno tem ganho cada vez mais destaque, evoluindo para a compreensão atual do TEA.
- Segundo os dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o número de casos de TEA nos Estados Unidos tem aumentado de forma muito importante nas últimas décadas, tendo saltado de um caso a cada 150 crianças, para um caso a cada 36 crianças entre 2000 e 2020.
- Possíveis razões para esse aumento incluem maior acesso aos serviços especializados, formação de profissionais capazes de detectar o transtorno e maior conscientização sobre o TEA entre pais, professores e profissionais de saúde.
- Ainda não temos estatísticas especificas do TEA no Brasil, mas estima-se que cerca de 4,8 milhões de pessoas podem estar no espectro do autismo em nosso país.
2. Outras Características do Transtorno do Espectro Autista:
- Mais de 30% das crianças com TEA não são verbais e apresentam deficiência intelectual.
- O TEA é quase 4 vezes mais comum entre meninos do que entre meninas. No entanto, é importante notar que a manifestação do TEA pode variar entre os gêneros.
- Mais de 50% delas têm problemas crônicos de sono.
- Varias outras patologias também estão frequentemente associadas ao autismo, entre as comorbidades mais comuns estão:
- Não existe consenso sobre as causas do autismo, sendo tema ainda aberto a amplo debate, em geral, acredita-se haver complexa interação entre condições ambientais e alterações genéticas múltiplas.
- Importante ressaltar, porem, que são FALSAS as teorias que associaram o autismo a vacinas, bem como a culpabilização materna.
Em resumo, o TEA é um tópico complexo e multifacetado, e as estatísticas refletem a crescente conscientização sobre transtorno em todo o mundo. É importante continuar pesquisando e apoiando as pessoas no espectro do autismo para garantir uma sociedade mais inclusiva e compreensiva.
O transtorno do espectro autista é complexo e necessita de uma avaliação individualizada, minuciosa e cuidadosa.
É importante que o profissional tenha compreensão e empatia e escuta, além de uma formação técnica solida e experiencia na área. O suporte deve ser feito por um Médico Psiquiatra capacitado.
Dr. Gabriel Guimarães Pereira é psiquiatra, com mais de 10 anos de experiência no cuidado do autismo, tanto em consultório como nos CAPS infantis, onde destaca a importância de um trabalho multidisciplinar aberto ao contato com a equipe que efetua o cuidado do paciente.
3. QUAIS OS SINTOMAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA?
1. Não olhar nos olhos das pessoas:
- Por vezes prefere objetos ao invés do rosto humano.
- Não tem contato visual quando amamenta.
- Sintoma já pode ser notado nos primeiros meses de vida.
2. tendencia se isolar ou dificuldade em fazer amigos.
3. Não responder quando chamada pelo nome.
4. Atraso no desenvolvimento da fala.
5. Dificuldades para entender expressões faciais e gestos.
6. Dificuldade em compreender metáforas ou ironias.
7. Incomodo com sons, luzes ou texturas tanto de tecidos quanto de alimentos.
8. Brincar de forma estranha ou repetitiva:
- Sem dar a função esperada ao brinquedo.
- Atenção a uma parte do brinquedo.
- Não brincam de “faz de conta”
- Notado entre 3-5 anos de idade.
9. movimentos repetitivos
- Apresentações podem ser variadas:
- Balançar o tronco ou sacudir as mãos são comuns.
- Pode incluir fixação a objetos, ou mesmo comportamentos auto agressivos.
10. Frases ou falas repetitivas (ecolalias), geralmente expressos fora do contexto.
11. Sofrimento ou incomodo com mudanças:
- Locais dos objetos: como brinquedos ou moveis da casa,
- atividades da rotina diária,
- Caminhos ou trajetos.
A lista acima inclui alguns dos sintomas comuns vistos nos pacientes autistas, mas outras características podem estar presentes, e cada paciente poderá apresentar diferentes gravidades ou mesmo a ausência de alguns, ou vários dos sintomas descritos.
Lembre-se que cada individuo autista é único em sua expressão individual, e necessitará de cuidados e auxílio conforme as dificuldades particulares.
4. O DIAGNÓSTICO DO AUTISMO
Os principais critérios para o diagnóstico do TEA , conforme o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), incluem:
1. Déficits persistentes na comunicação e interação social:
- Dificuldade em estabelecer relacionamentos sociais significativos.
- Dificuldade em compartilhar interesses, emoções ou atividades com outras pessoas.
- Dificuldade em compreender e se expressar tanto na linguagem verbal quanto não verbal
2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades:
- Comportamentos repetitivos.
- Interesses intensos em objetos ou tópicos específicos.
- Apego excessivo à rotinas e dificuldade em lidar com mudanças.
3. Sensibilidade sensorial:
- Hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como luz, som, texturas ou cheiros.
- Podem ocorrer incômodos com ruídos, tecidos das roupas ou mesmo dos alimentos.
- Cabe ressaltar que essa característica, apesar de frequente no TEA, não é obrigatória para o diagnóstico.
4. Início precoce:
- Os sintomas geralmente aparecem nos primeiros anos de vida, embora variem amplamente em gravidade.
Nos últimos anos consolidou-se o entendimento do autismo como uma ampla gama de apresentações e gravidades (daí o termo Espectro), que variam desde casos muito leves, com condições de funcionamento potencialmente ótimas (podendo ou não apresentar dificuldades pontuais, ou sofrimentos subjetivos), até os casos mais severos, que apresentam deficiência intelectual e ausência de comunicação.
Lembrando que o diagnóstico do TEA deve ser feito por um profissional de saúde mental qualificado, com base em uma avaliação minuciosa do comportamento e histórico da criança ou adulto.
Cada pessoa no espectro do autismo é singular, e apresentará sua expressão única de sintomas e características, bem como de qualidades e peculiaridades.
5. QUAIS OS NIVEIS DO AUTISMO?
Nos últimos anos aconteceram mudanças grandes na classificação dos graus do autismo, com a implementação da 5 ed. do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e da Classificação Internacional de Doenças, 11ª edição (CID 11):
- De acordo com o DSM-5, o TEA é classificado em três níveis, com base no nível de suporte necessário:
- Nível 1 (Leve): Exigindo apoio.
- Indivíduos neste nível podem ter dificuldades sociais e de comunicação que são notáveis, mas não impedem a funcionalidade total.
- Eles podem parecer desajeitados e desinteressados em interações sociais, e podem ter dificuldade em mudar de uma atividade para outra.
- Nível 2 (Moderado): Exigindo apoio substancial.
- Indivíduos neste nível têm dificuldades mais marcantes na comunicação e interação social.
- Eles podem ter comportamentos, interesses ou atividades restritas e repetitivas claras para os observadores.
- Eles podem resistir à mudança e ter dificuldade em mudar de foco ou ação.
- Nível 3 (Grave): Exigindo apoio muito substancial.
- Indivíduos neste nível têm dificuldades severas na comunicação e interação social.
- Eles têm comportamentos, interesses ou atividades muito restritos e repetitivos. Eles podem ser extremamente resistentes à mudança e ter dificuldade em mudar de foco ou ação.
- Nível 1 (Leve): Exigindo apoio.
Esses níveis são usados para identificar o grau de apoio necessário para cada indivíduo com TEA, podendo assim sugerir a intensividade do tratamento destinado a cada caso e auxiliando a busca por plano terapêutico multidisciplinar adequado.
6. A CLASSIFICAÇÃO ATUAL DO ESPECTRO AUTISTA (CID11)
Na CID-11 o TEA é identificado pelo código 6A02, sendo subdividido segundo a presença ou não de Deficiência Intelectual e/ou do comprometimento da linguagem funcional. Aqui estão as subdivisões:
- 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional
- 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional
- 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Deficiência Intelectual e com comprometimento significativo da linguagem funcional
- 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com Deficiência Intelectual e com comprometimento significativo da linguagem funcional
- 6A02.5 Transtorno do espectro autista com transtorno do desenvolvimento intelectual e com ausência de linguagem funcional
Vale ressaltar que as intervenções no autismo devem ser avaliadas de forma individual, e que os critérios da CID11, apesar de serem atrelados a funcionalidade, não estão diretamente associados aos níveis de suporte descritos mais acima.
Tais classificações devem ser avaliados de forma criteriosa e flexível, também em decorrência das tantas peculiaridades comportamentais e das comorbidades que com frequência ocorrem nos indivíduos com o TEA.
7. QUAL O TRATAMENTO DO AUTISMO?
7.1. A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR:
O tratamento do transtorno do espectro autista (TEA) deve ser feito de forma multidisciplinar envolvendo a colaboração de diversos profissionais para abordar as necessidades específicas de cada indivíduo. Aqui estão as principais especialidades que fazem parte dessa equipe:
- Médico: O médico, geralmente um psiquiatra infantil, é responsável pelo diagnóstico inicial e pela avaliação clínica. Ele também monitora a saúde geral do paciente e pode prescrever medicamentos quando necessário.
- Psicólogo: O psicólogo desempenha um papel fundamental na avaliação clínico-comportamental do paciente. Ele reconhece os sintomas e sinais característicos do TEA e oferece suporte direto à criança, bem como orientação e apoio aos pais.
- Várias abordagens são indicadas para auxílio do TEA, sendo o ABA (Análise comportamental Aplicada), atualmente a mais comum, no entanto esta não deve ser considerada a única forma eficiente de tratamento do autismo, sendo dotada de vantagens e desvantagens a serem avaliadas individualmente a cada caso.
- Fonoaudiólogo: O fonoaudiólogo trabalha na melhoria da comunicação verbal e não verbal da criança com autismo. Ele ajuda a desenvolver habilidades de linguagem, expressão e compreensão.
- Terapeuta Ocupacional: O terapeuta ocupacional auxilia na adaptação das habilidades motoras, sensoriais e de autocuidado. Ele ajuda a criança a desenvolver independência nas atividades diárias.
- Pedagogo: O pedagogo é responsável por estratégias educacionais e inclusão escolar. Ele colabora com a escola para adaptar o ambiente e o currículo às necessidades da criança com TEA.
- Psicomotricista: O psicomotricista trabalha no desenvolvimento motor e emocional da criança, promovendo a integração entre corpo e mente.
- Neurologista e Neuropediatra: Esses especialistas podem ser consultados para avaliar questões neurológicas específicas e fornecer orientações sobre o desenvolvimento cerebral.
Lembrando que a abordagem multidisciplinar é fundamental para oferecer suporte completo e melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo e suas famílias.
7.2. TRATAMENTO COM MEDICAMENTOS:
O tratamento farmacológico para o autismo, quando indicado por avaliação médica, envolve várias opções de medicamentos, com o intuito de aliviar sintomas específicos. Seguem algumas opções:
- Antipsicóticos Atípicos: Ajuda a controlar comportamentos agressivos, irritabilidade e agitação.
- Antidepressivos: Podem ser prescritos para tratar sintomas de ansiedade, depressão ou obsessões.
- Estabilizadores de Humor: Às vezes usado para controlar agressividade e irritabilidade em pacientes com autismo.
- Estimulantes: Embora mais conhecido para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), também pode ser usado para melhorar a atenção e o foco em pacientes com autismo.
- Os derivados da Canabis também tem sido utilizados para o transtorno do espectro autista, visando melhora dos sintomas e comportamento.
Eles ainda são indicados quando ocorre falha dos medicamentos tradicionais, por ainda haver poucas pesquisas disponíveis.
Lembre-se, cada indivíduo com TEA é único e pode responder de maneira diferente a diferentes abordagens terapêuticas. Portanto, é importante trabalhar com profissionais de saúde capacitados para encontrar a abordagem que melhor atenda às necessidades individuais.
O doutor Gabriel Guimarães Pereira tem ampla experiencia no acompanhamento do autismo em suas diferentes expressões, caso tenha interesse em marcar um atendimento entre em contanto, estaremos felizes em ajudar e acolher!
Gabriel Guimarães Pereira – Doctoralia.com.brREFERENCIAS:
- As 8 principais teorias sobre o autismo – Maestrovirtuale.com. https://maestrovirtuale.com/as-8-principais-teorias-sobre-o-autismo/.
- Autismo: breve revisão de diferentes abordagens – SciELO. https://www.scielo.br/j/prc/a/4b8ymvyGp8R4MykcVtD49Nq/.
- Alterações cognitivas no Autismo – Instituto NeuroSaber. https://institutoneurosaber.com.br/alteracoes-cognitivas-no-autismo/.
- http://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol11.nº01ensaio49.
- Dados estatísticos do autismo: Causas, sintomas e tratamentos. https://blog.ieac.net.br/dados-estatisticos-do-autismo-causas-sintomas-e-tratamentos/.
- Retratos do Autismo no Brasil em 2023 – Canal Autismo. https://www.canalautismo.com.br/noticia/retratos-do-autismo-no-brasil-em-2023/.
- Quais são os graus de classificação do autismo? https://www.funcionalita.com.br/quais-sao-os-graus-de-classificacao-do-autismo.
- Níveis de autismo: conheça quais são, suas características…. https://www.educamundo.com.br/blog/niveis-de-autismo-conheca-quais-sao-suas-caracteristicas-sinais-e-sintomas/.
- DSM-5 E TEA: O DIAGNÓSTICO DO AUTISMO – Instituto NeuroSaber. https://institutoneurosaber.com.br/dsm-5-e-tea-o-diagnostico-do-autismo/
- 10 tratamentos para autismo (e como cuidar da criança)
- ATUAÇÃO FARMACÊUTICA NA ABORDAGEM FARMACOLÓGICA PARA O TRANSTORNO DO …
- Abordagem psicofarmacológica no transtorno do espectro autista: uma …
- Autismo: tratamentos psicofarmacológicos e áreas de interesse para …
- A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA NOS CUIDADOS A PACIENTES …
- https://doi.org/10.1590/S1516-44462006000500006
- imagens 6 e 7 : <a href=”https://es.vecteezy.com/vectores-gratis/perfil“>Perfil Vectores por Vecteezy</a>
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